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Conheça Lisiane e sua história 

Sou uma mulher negra, gaúcha e de axé; assino como Lisiane Niedsberg em homenagem a minha vó Ariocilda Niedsberg que faleceu em 2018 aos 103 anos; formada em Letras pela FURG; especialista em Educação para a Diversidade pela UFRGS. Professora de língua portuguesa na rede municipal de Porto Alegre e de Viamão/RS; educadora desde 2009; afroempreendedora; estilista; dançarina; militante. Coordenadora do "Projeto Desvendando" desde 2013. Proprietária da Marca Afro "Desvendando Estilos" desde 2018. Pesquisadora vinculada às faculdades de letras da UFRJ e da UFRA. Participei de publicações e ministro palestras sobre incentivo à leitura em escola; literatura negra; ERER; Educação para a diversidade, antirracista e no cárcere. Membro: MNU/RS; GT Afro-Bra da Revista África e Africanidades do RJ; Coletivo Educação Antirracistas do RS. Atuei em escolas e projetos com mulheres e adolescentes em situação de privação de liberdade. 

Muitas vezes a minha trajetória se confunde com a trajetória do “Projeto Desvendando” e é impossível separar criador e criatura. Antes mesmo de me formar em Letras/Português-Francês na FURG na minha cidade natal Rio Grande, optei por fazer estágio em uma escola na periferia, estágio e voluntariado em cursinhos pré-vestibulares para negros e pobres em Rio Grande e Pelotas. No ano de 2009 vim morar em Porto Alegre com o intuito de me organizar para fazer mestrado em Educação. Ao chegar fui trabalhar como garçonete num shopping e num Projeto temporário de cursos profissionalizantes na FASE com adolescentes em medida socioeducativa. Desde o primeiro dia do curso na FASE, os alunos cantavam músicas dos Racionais MC’s para não precisarem ouvir os professores, então na minha segunda aula decidi usar a música “A vida é um desafio”, deste mesmo grupo, para dar aula e a partir daí comecei a entender que as minhas aulas teriam sempre que partir da realidade do aluno. Inclusive, eu sabia as músicas dos Racionais que foi meu pilar de sustentação na minha adolescência na periferia e na universidade pública e racista. Em 2010 fui contratada na rede estadual e comecei a dar aula no Bairro Rubem Berta na Escola Estadual Baltazar de Oliveira Garcia (BOG) no ensino médio noturno com alunos de 17 a 50 anos. Com apenas um período de 50 minutos em cada turma precisei me reinventar aliando leitura em parte da aula e matéria em outra parte. Infelizmente nesta mesma época haviam assassinado uma professora na saída da escola, também tinham traficantes vendendo drogas dentro da escola e toque de recolher. Os alunos conviviam com tudo isso e muitos ainda chegavam cansados a aula por trabalharem o dia inteiro.

O “Projeto Desvendando" - anteriormente chamado de “Projeto Desvendando os problemas sociais: rolezinho educativo” - é protagonizado por alunos e ex-alunos de escolas públicas e tem como diretriz o respeito à diversidade com ênfase na educação para as relações étnico-raciais (ERER). O projeto é realizado desde 2013 nas disciplinas de língua portuguesa e literatura, não possui recursos financeiros e conta com a ajuda dos amigos das redes sociais. O “Projeto Desvendando” já foi realizado nesses 9 anos nas periferias de Porto Alegre, Viamão e Rio de Janeiro. 

Desde o início do projeto recebemos alguns prêmios, participamos de programas de TV, rádio, livros, publicações, lives e todas as realizações partem do protagonismo das crianças e adolescentes.

De 2013 a 2015 no BOG, destacamos as ações: desvendando a leitura; contação de histórias negras; voluntariado no Projeto Vó Chica na comunidade. Em 2014 fui nomeada na Rede Municipal de Viamão e em 2015 na Rede Estadual do Rio Grande do Sul. De 2014 a 2021 foi realizado em cinco escolas de Viamão: filmagens para o Programa Nação apresentado pela Fernanda Carvalho que era veiculado na TVE e na TV Brasil em 12/10/2015; desfiles da Desvendando Estilos com alunos e ex-alunos negros (2019); contações de histórias negras; teatro, dança, palestras de personalidades negras. De 2015 a 2017 na Escola NEEJA CP Julieta Villamil Balestro, dentro do Presídio Feminino Madre Pelletier: dança antes de começar as aulas e literatura negra. Em 2017 me exonerei da rede estadual e pedi uma licença de 2 anos no município de Viamão para trabalhar com projetos no Rio de Janeiro. De 2017 a 2019 no Rio de Janeiro: início da marca de roupas afro Desvendando Estilos que patrocinava palestras em escolas públicas; entrevistas na Feira Literária de Parati (FLIP 2017) e mediação de mesas na Festa Literária das Periferias (FLUP 2018). Fui co-apresentadora de um programa quinzenal de rádio chamado “Na onda das pretas” na rádio MEC - CBN no Rio. Fiz intervenções artísticas com o grupo “As panteras negras”. Em 2019 retorno a morar em Porto Alegre e trabalhar no munícipio de Viamão.

Em 2020 por causa da pandemia começou a "Missão: O resgate" com a acolhida online de ex-alunos de 2009 a 2019 que estavam nas minhas redes sociais. As ações foram: formações de empreendedorismo; momentos de escuta e de autocuidado; ex-alunas entrevistaram mulheres negras empreendedoras de diversas áreas em lives ao vivo; início de uma biblioteca negra, a partir de doações das redes sociais.

Em 2021 na EMEF Barreto Viana em Viamão, tivemos: o “Desvendando o autocuidado”: 6º ano - conversas onlines e presenciais com alunos sobre diversidade. Do 6º ao 9º ano – rodas de conversas sobre Saúde mental de adolescentes. Encontros semanais presenciais com alunos que se voluntariaram para serem monitores do projeto.  O “Desvendando a diversidade”: monitores do 7º ano pesquisaram sobre os problemas sociais que escolheram: racismo, religião de matriz africana, xenofobia e homofobia. Leituras de livros infantis com temática negra para fazerem contações de histórias para alunos do Jardim ao 5º ano. O “Desvendando a diversidade com professores”: início da proposta de formação para professores sobre: saúde mental de adolescentes; educação para a diversidade; racismo; homofobia; intolerância religiosa; violência contra a mulher e etc. O “Desvendando a dança afro”: início da proposta de formação de um grupo de dança afro. O “Desvendando o ensino médio”: motivação e ajuda a turma do 9º ano na inscrição para o IFRS e após foi realizada a matrícula de quatro alunas contempladas pelo IFRS – Campus Viamão. 

No início de 2022 aconteceram mudanças na escola e infelizmente não foi possível prosseguir com o trabalho exclusivo com o “Projeto Desvendando” como foi planejado no ano interior. Sendo assim o projeto segue sendo realizado somente com a turma do 6º ano nas aulas de línguas portuguesa: desvendando a leitura com literaturas sobre diversidade; histórias indígenas e negras; estudo e apresentação teatral sobre a vida de Lupicínio Rodrigues; conversas sobre acolhida de pessoas com deficiência.

Em maio de 2022, eu fui nomeada em mais um concurso, agora na Prefeitura de Porto Alegre e assumo 20h em mais duas escolas: EMEF Timbaúva, no Timbaúva e EMEF Ildo Meneghetti, na Santa Rosa, ambos pertencentes ao Rubem Berta, lugar que nasceu o “Projeto Desvendando” e que eu estava ansiosa a voltar a lecionar nesta comunidade que conheço também. Estas duas escolas ainda acreditam na autonomia do professor e assim o “Projeto Desvendando” começa a se desenhar mais livremente. Mesmo a somente 40 dias lecionando nestas escolas, já estou muito próxima dos alunos, visto que o projeto preza pelo protagonismo dos adolescentes e de que as ações partam de ideias deles.

Na EMEF Timbaúva estou dando aula para uma turma de Correção de Fluxo e a forma de ensinar é bem diferenciada já que os alunos estão no 6º ano com alguns não-alfabetizados, o intuito do “Projeto Desvendando” é estimulá-los, a leitura e escrita nos cromebooks da escola; com uma comunicação inicial por troca de e-mails que a prefeitura fornece; leitura de livros através de imagens; uso de danças do TikTok e pesquisas sobre o funk – Desvendando a dança; pesquisas sobre futebol – Desvendando o jogador Neymar; e demais temas que os alunos irão trazendo no 2º trimestre.

Na EMEF Ildo Meneghetti tenho uma turma de 7º ano que gosta muito de debater sobre assuntos diversos, então estamos trabalhando com o Desvendando a diversidade através de reportagens com os temas bullying, racismo e saúde mental. Os alunos utilizam também os cromebooks para digitar as pesquisas e corrigi-las; estudo sobre as redes sociais e veículos de comunicação.

Nos meus 15 anos trabalhando e pesquisando sobre educação, eu posso dizer que já trabalhei em diversas áreas e mesmo sendo a profissão que menos valoriza os profissionais tanto financeiramente como intelectualmente, eu não consigo me ver abandonando totalmente a sala de aula. Eu tenho um sonho... Esse sonho é que até 2023, quando o “Projeto Desvendando” completará 10 anos, tenhamos um espaço que crianças e adolescentes, no turno inverso a escola, possam brincar, dançar, se alimentar e obter estímulos para que possam ser cidadãos conscientes para que no futuro lutem por trabalhos dignos e que possam seguir sonhando. Eu tenho um sonho... Enquanto isso, seguimos Desvendando...

Lisiane, 41 anos, professora de língua portuguesa
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